Nascida numa família de comerciantes, educada na escola das agostinianas, desejosa de conhecer sempre mais, adquiriu, como autodidata, uma considerável cultura humano-religiosa.
Foi chamada a ‘andarilha de Deus’. Sua vida espiritual começou bem cedo. Com sete anos, empolgada com o relatório da vida dos mártires, decidiu fugir de casa para ir à terra do mouros, onde pretendia doar a vida. Evidentemente tal projeto fracassou. Aos vinte anos fugiu novamente de casa para entrar no ‘Carmelo da Encarnação’, onde permaneceu mais ou menos silenciosa até 1.562, quando se aventurou na reforma carmelita, experimentando alegrias e sofrimentos.
Dialoga com teólogos para ter a certeza de não ser enganada. Procura companheiras para sua reforma teresiana e estas aparecem. Busca também companheiros para que o ramo masculino possa entrar num processo de purificação e vida nova. A Providência envia-lhe frei João da Cruz. Desponta uma amizade espiritual que vai crescendo e fundindo-se numa nova maneira de sentir a experiência de Deus.
Teresa é mestra de oração e na sua intimidade com Deus, percebe que é necessário deixar-se amar por ele. Diante dela os teólogos sentem-se questionados, os bispos e sacerdotes vêem um fenômeno eclesial particular. Embora não compreendendo suas atitudes, apoiam sua iniciativa de reformadora e mestra de oração.
Os seus livros são ‘best-sellers’, traduzidos para as principais línguas. São temas de estudo e meditação. Teresa D’Avila conquistou para a mulher um lugar de respeito na história da espiritualidade cristã, pois, até, então, a vida espiritual era reservada a poucos homens corajosos e valentes.
A oração é o carisma de Santa Teresa na Igreja, o seu ensinamento específico. Foi o que afirmou o Papa Paulo VI ao conferir-lhe o título de doutora da Igreja, a 27 de setembro de 1.970. Eis as palavras textuais de Paulo VI: “Ornada por este grande título, ela passa a ter uma importante 5 missão a cumprir, na sua família religiosa, na Igreja e no mundo, com sua mensagem presente e perene: a mensagem da oração”.
A oração como amizade com Deus: esta é a definição teresiana de oração. Ser orante é ser amigo de Deus. É bom ressaltar que a experiência de amizade está na raiz da compreensão teresiana de oração. Teresa sempre foi uma grande amiga. Os primeiros capítulos de sua autobiografia revelam uma pessoa que desde o início amou e foi amada, doou e acolheu amizades.
Mas só em Jesus Cristo, Teresa fez a experiência da verdadeira amizade. Em Cristo ela encontrou o equilíbrio, quando ele ocupou definitivamente o centro afetivo de seu ser, libertando-a afetivamente e libertando nela toda a capacidade humana de doar-se.
Na amizade humana Teresa pôde colher o sentido da amizade divina, mas a experiência de ‘Deus Amigo’ superou a experiência e as expectativas da amizade humana. Coerentemente, Teresa define sua existência como uma experiência de um ‘Deus Amigo’ que veio ao encontro dela, desde a infância, que não a abandonou nas crises da vida religiosa, que sempre se mostrou um amigo fiel até as mais imprevisíveis graças místicas. Toda a autobiografia teresiana é um testemunho vivo deste ‘Deus Amigo’, que ama sem medidas.
A oração entendida como amizade com Deus possui algumas características essenciais. Ei-las: a) Encontro Interpessoal: é o encontro com o ‘Outro’; com o ‘Tu’ divino. É diálogo, não monólogo. É o estar com Deus. Estar na presença de Deus, apesar das distrações. O estar diante de Deus é uma oportunidade singular para se confrontar com a Verdade. É ocasião para crescer no conhecimento de si próprio. A oração é um caminho para o conhecimento de si, provocado por Deus, que é amigo na verdade. A oração nos leva a conhecer e assumir nosso ‘lodo existencial’.
A oração é ascese, pois purifica o nosso coração de toda mentira e ilusão. Na oração Deus vai se revelando, e ao se revelar, revela a nós mesmos a 6 nossa identidade, a nossa real situação. Na oração Deus revela progressivamente tudo quanto ele é, e, simultaneamente, revela o que não somos. Por isso, este processo é purificador, mas é doloroso. O maior fruto da oração: cresce o conhecimento mútuo entre Deus e o homem.
A oração é encontro interpessoal que não somente comporta conhecimento, mas também dom recíproco. A oração deve desenvolver ao máximo o dinamismo da doação pessoal. É outro axioma teresiano: “Deus não se dá por inteiro até que nós também não nos doemos por inteiro”. Teresa, no entanto, destaca que a doação divina ao homem é extremamente dolorosa, acrisoladora, purifica verdadeiramente a psique humana.
Elaborando uma teologia da oração como encontro pessoal com Deus, Teresa parte e uma premissa básica: a iniciativa é sempre de Deus. A oração sempre é resposta pessoal ao Deus que se revela e se doa em Cristo.
b) Encontro Teologal: a oração é um exercício de fé, de esperança e de caridade. É um momento qualificado de vida teologal, e um fator de crescimento nas virtudes teologais. A oração é um encontro na fé e que faz crescer a fé. É um movimento de adesão na fé, mesmo na obscuridade da aparente ‘ausência de Deus’. É a fidelidade daquele que crê na presença de Deus. Embora não possamos vê-lo, sabemos que ele está presente, e nos ama.
A oração promove a experiência da esperança, sentida e alimentada como audácia que ousa tudo esperar de Deus; como desejo de ver Deus (sentido escatológico da vida cristã). A oração é um aperitivo do encontro definitivo com o Senhor.
A oração faz crescer na caridade. A oração teresiana por seu caráter afetivo privilegia o amor. Na amizade divina, a caridade é a resposta humana ao deus que lhe é amigo. O verdadeiro encontro com Cristo promove o crescimento da caridade; se dilata a capacidade de amar o próximo. Na oração cresce a caridade, que se concentra no amor ao próximo; até o ponto de deixar o Deus da oração pelo Deus que está presente e é servido no irmão.
c) Encontro Dinâmico: aberto à evolução. Deus é inesgotável novidade; portanto, a oração sempre será um encontro dinâmico, de crescimento na vida cristã. A vida de oração é caminho de maturidade cristã. Caminho feito de lutas, provas, graças e crescimento na união com Deus.
Pela oração o cristão adquire e desenvolve a capacidade de uma abertura de horizontes, de uma ampla compreensão da realidade da Igreja. Na oração cresce a sensibilidade pelos interesses de Deus na história. Cresce o ardor missionário, o latente desejo de levar a boa-nova de Cristo a todos.
Como amizade dinâmica, a oração também promove a integração e cura da psique humana. A interioridade é característica da oração teresiana: entrar em nós mesmos; a oração leva-nos até o centro de gravidade de nosso ser. A oração gradativamente vai nos levando ao mais profundo de nós mesmos, da realidade que sustenta a nossa existência, até ao aposento onde Deus habita. A oração promove uma forte unidade espiritual e psicológica (recolher a nativa dispersão humana).
A oração leva-nos às realidades transcendentes: por experiência mística ou por sensibilidade de fé, se chega ao conhecimento das realidades transcendentes. É ser testemunha do mistério e contemplá-lo.
d) Encontro Transformante: o exercício da oração requer a coerência da vida, o exercício das virtudes. A oração autêntica produz frutos, é um fator de santificação. A finalidade da oração é tornar o orante semelhante a Cristo. No rosto do verdadeiro orante aparece o rosto de Cristo.
Em suma: a oração é o meio (a porta) para a pessoa entrar na própria interioridade, onde toma consciência de sua realidade conflitiva e da salvação oferecida por Deus. A oração é o sentido do grande axioma teresiano: “A presença de Deus preenche a solidão humana”.
Seria bom divulgar as extraordinárias experiências de Santa Teresa dos Andes ...