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Religião

Origem e desenvolvimento da fé

Publicada em 24/10/20 às 12:27h - 605 visualizações

por Dom José Roberto Fortes Palau


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plantação de trigo  (Foto: #pinterest)
A fé não é um conceito abstrato, mas uma realidade viva. De per si, não existe a fé, mas a “pessoa de fé”. Existe a pessoa que conduz sua vida sob a moção do Espírito Santo, esse modo diferente de comportar-se é a “fé”. E como toda realidade viva, a fé também possui uma dinâmica própria de evolução: nasce, cresce, desenvolve-se, mas também pode definhar-se e morrer. De fato, há pessoas cuja fé evolui e torna-se fecunda; porém, também existem pessoas que antes acreditavam com firmeza e convicção e depois, por circunstâncias desfavoráveis, ou por outros motivos, se enfraquecem na fé e já não acreditam mais em Deus. A fé, portanto, nasce, cresce e se fortalece; ou se enfraquece e morre. Como acontece esse duplo processo? Qual a responsabilidade humana nesse processo? É o que analisaremos com o tema: “Origem e desenvolvimento da fé”.

A fé é sempre dom de Deus

A fé, enquanto virtude teologal, é puro dom de Deus. Então, como Deus concede este dom? É o que vamos analisar neste capítulo. A fé nasce na pessoa pela infusão no seu íntimo de uma disposição habitual a crer, ou seja, por uma moção interior do Espírito Santo para aderir com a inteligência e a vontade a Deus. Pois bem: quando é infusa no ser humano essa “disposição habitual a crer”? Existem dois casos  instintos, vejamos:
Primeiro caso é o da criança. Toda criança é batizada “na fé da Igreja”, representada pelos
seus pais, padrinhos e pela comunidade que participa do rito do batismo. Neste caso, a “virtude da fé” – juntamente com as virtudes da esperança e caridade – é infundida no momento do batismo, que é o sacramento da iniciação cristã. No entanto, a fé é infundida não como “ato”, mas sim como “hábito”, isto é, como disposição a realizar o ato pessoal de fé, quando se tornar capaz. Explicando mais detalhadamente: no batismo, a criança recebe a graça santificante que a faz participante da filiação divina de Jesus Cristo e membro da Igreja. Essa graça santificante ainda infunde na criança a “disposição ao ato de fé” (hábito), quando esta atingir o uso da razão.
Evidentemente na criança, a fé encontra-se em estágio embrionário: deverá ser desenvolvida com a educação cristã por parte dos pais, de modo que atingida a idade da razão, a criança possa realizar um “ato pessoal de fé”, e depois aprofundá-lo com o transcorrer dos anos. Segundo caso é do adulto. É a pessoa que se converte, isto é, passa da incredulidade à fé.
Neste caso, a infusão do dom da fé ocorre antes do batismo. Ele está sob o influxo da graça da fé já quando começa a refletir sobre a fé, e a ponderar se adere ou não ao conteúdo da fé proposto pela Igreja. A graça que o “estimula a crer” está presente em todo o processo que culminará com o pedido do batismo, ou com a rejeição de tornar-se cristão. Dito com outras palavras: cada passo que o adulto dá no caminho da fé é realizado sob o influxo do Espírito Santo, que ilumina a inteligência e move a vontade, sem, todavia, jamais violentar a liberdade da pessoa. A graça divina excita, estimula, ilumina, mas não constrange a liberdade humana. O ser humano, mesmo sob o influxo da graça do Espírito Santo, pode rejeitar a fé. Muitas vezes, a conversão se estende por anos e anos, como a de santo Agostinho e do beato Newman; outas vezes, se dá de forma fulminante que, em poucos segundos, destrói um passado inteiro para reconstruir imediatamente um futuro inteiramente novo. Aqui a ação do Espírito Santo, a percepção dos motivos de credibilidade e a resolução definitiva da vontade fundem-se na unidade de um ato instantâneo. O exemplo de são Paulo que, nos caminhos de Damasco, cai fariseu e perseguidor, para levantar-se cristão e apóstolo não é o único na história do cristianismo. No século XIX, Afonso de Ratisbona, fundador das religiosas de Sion, entra em Roma numa Igreja para agradar a um amigo que o deixa por alguns instantes só na imensa Igreja silenciosa, para encontrá-lo pouco depois, debulhado em lágrimas ante um altar da Virgem Maria. O outrora judeu escarnecedor do cristianismo levanta-se radicalmente transformado, recolhesse num retiro e orienta radicalmente sua vida para novos horizontes espirituais. Sob qualquer de suas inumeráveis modalidades individuais, a conversão apresenta-se-nos sempre como um drama interior, em que os dois grandes atores são Deus e a alma humana. Agora, uma pergunta que não quer calar: em que consiste essa graça que conduz o adulto à conversão e ao batismo? Consiste numa iluminação interior, em que a pessoa se sente e se reconhece pecadora, e ainda incapaz de libertar-se dos pecados com suas próprias forças. A pessoa sente-se atraída pela mensagem e pela pessoa de Jesus. O adulto convertido já possui o dom da fé, antes mesmo de receber o batismo. Contudo, é no batismo que ele recebe a “plenitude do dom da fé”. Dessa verdade, é símbolo a vela acesa, que o adulto recebe, de quem lhe administra o batismo, com as seguintes palavras: “Receba a luz de Cristo”. Por isso mesmo, nos primórdios do cristianismo, o batismo era conhecido como “iluminação”, e quem o recebia era chamado de “iluminado” (cf. Hb 6, 4; 10, 32). Deste modo, o batismo aperfeiçoa o dom da fé.

A fé necessita ser cultivada

A fé, enquanto realidade viva, necessita ser cultivada e nutrida para poder desenvolver e
crescer. Se falta o cultivo, a fé enfraquece e morre. O que nutre a fé e a faz crescer? Antes de tudo, a oração. Deus que está na origem da fé, é também quem a leva a cumprimento. Por isso, a Igreja suplica: “Deus onipotente e eterno, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade” (Oração do XXX Domingo do Tempo Comum). Depois vem a participação nos sacramentos, de modo particular, a participação na eucaristia, que é o “Mistério da Fé”. Por fim, a escuta habitual e a meditação da Palavra de Deus, realizada numa comunidade eclesial, que com sua oração sustenta o cristão no seu caminho de fé, muito frequentemente árido e escuro.
Mas não se deve desvalorizar a importância que para o crescimento da fé têm, de uma
parte, as obras de caridade, e, de outra, as fortes experiências de Deus oriundas, por exemplo, num retiro espiritual de silêncio. Num mundo como o nosso, em que as pessoas vivem alienadas de si pelo barulho excessivo, o silêncio é a grande oportunidade de “entrar em si mesmas” e refletir sobre os grandes problemas da existência, dentre os quais se encontra a fé. O barulho é sempre fuga de si mesmo. Solidão significa fazer companhia para si mesmo. Quando fujo de mim mesmo é sinal de que algo não vai bem em minha vida. Enfim, é muito difícil desenvolver a própria fé, se não se cultiva um mínimo de silêncio.

A fé é conhecimento (crescer em extensão)

O desenvolvimento da fé deve caminhar junto com o desenvolvimento humano e cultural.
Progredindo em idade, e crescendo no conhecimento cultural, o cristão deve também adquirir um conhecimento mais maduro de sua fé. É inadmissível que permaneça apenas com os primeiros rudimentos da doutrina cristã, assimilados na época da catequese: preparação para a primeira comunhão e para a crisma. Se isso ocorrer, facilmente abandonará a fé, ou, então, conservará uma fé incipiente, que não terá nenhum lugar na sua vida de adulto. Acrescente-se ainda que hoje, a fé cristã é submetida a ataques violentos; é contestada em todas as suas verdades essenciais: a existência de Deus, e encarnação e a ressurreição de Jesus, a moral sexual, matrimonial e familiar, a doutrina sobre a vida eterna. Esses ataques, muitas vezes, geram dúvidas e angústias naqueles cristãos, que ignorando os elementos fundamentais da doutrina cristã, não estão em condições de responder às objeções movidas contra a fé. Daí a necessidade de se conhecer bem a doutrina cristã. Por isso, sobretudo para o nosso tempo, vale a admoestação de santo Agostinho: “Compreender para crer”. O estudo aprofundado leva o cristão a compreender a profunda coerência e beleza da doutrina cristã, para que seu “ato de fé” seja mais pleno, mais pessoal, mais maduro; seja menos dependente dos condicionamentos sociológicos e psicológicos; finalmente, seja mais alegre e irradiante para aqueles que se aproximam de nós.

A fé é ato pessoal (crescer em intensidade)

A fé não deve desenvolver-se apenas intelectualmente, mas também afetivamente. O
crescimento da fé na linha da intensidade manifesta-se na consolidação de uma fé convicta, capaz de realizar os mais exigentes sacrifícios pela verdade do evangelho, inclusive o da própria vida. O martírio pela fé é a forma mais alta e perfeita de adesão e de amor a Cristo. Eis porque, desde a antiguidade cristã, os primeiros cristãos a ser venerados e invocados como intercessores junto a Deus foram os “mártires”. A fé cresce em intensidade quando deixa de ser “fé herdada” para tornar-se “fé pessoal”. A fé herdada é aquela que advém de uma família cristã ou de um ambiente cristão. Crê-se em Deus, inicialmente, não tanto por uma escolha pessoal, mas por uma escolha de fé que outros fizeram. A fé pessoal ocorre quando o cristão, através do estudo pessoal, adquire uma melhor, mais ampla e profunda compreensão da fé e, assim, intensifica sua comunhão com Deus. Desse modo, cumpre um “ato pessoal”, isto é, um “ato livre” de fé. 

A fé é ação (crescer em obras)

A fé concretiza-se através de ações caritativas. A fé que não se traduz em obras de caridade é morta (Tg 2, 14-17). E o que se entende por obras de caridade? Seguramente, é o amor concreto para com o próximo, em particular com os mais necessitados. No entanto, a ação caritativa é mais ampla, abarca toda a existência humana, ou seja, implica que toda a vida e toda a atividade do cristão seja iluminada, dirigida e orientada pela fé. Quando isso acontece, a fé efetivamente torna-se para o cristão a norma de seus juízos e a razão última de suas decisões. Assim a fé cristã é autêntica quando se torna “fé vivida”. Vivida, antes de tudo, na celebração eucarística dominical, na qual se realiza o exercício mais alto da fé cristã. Assim se compreende quanto é absurda a pretensão de alguns católicos de se denominarem “católicos não praticantes”. É uma contradição, pois não há fé sem a prática cristã. A fé de quem não pratica é uma “fé residual”, ou melhor, um “resíduo de fé”, que à semelhança de uma vela, que ainda crepita, pode cessar sua frágil chama ao primeiro vento. Pode também tratar-se de uma fé herdada da família ou do ambiente em que se viveu, mas é uma fé desprovida de adesão pessoal. É uma “fé cultural”, que explica a ambiguidade de muitas pesquisas religiosas, que apontam uma população de cerca de 60% de católicos no Brasil e uma prática religiosa não superior a 10%. Mesmo ambígua e frágil, a fé residual é uma semente que deve ser cultivada até tornar-se uma fé viva, pessoal. Nas mãos de Deus (ação da graça divina), também a fé residual pode ser a via para conduzir uma pessoa a dizer: “Sim, eu creio”.



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