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As bem-aventuranças

Publicada em 11/07/20 às 12:47h - 447 visualizações

por Dom José Roberto Fortes Palau


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monte das bem aventuranças e mar da galileia  (Foto: pinterest)
Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou as bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23). Estas são como que a carteira de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre «como fazer para chegar a ser um bom cristão», a resposta é simples: é necessário fazer aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida. 

A palavra «feliz» ou «bem-aventurado» torna-se sinônimo de «santo», porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade.

As bem -aventuranças não são, absolutamente, um compromisso leve ou superficial; pelo contrário, só as podemos viver se o Espírito Santo nos permear com toda a sua força e nos libertar da fraqueza do egoísmo, da preguiça, do orgulho.

1.) «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» O Evangelho convida-nos a reconhecer a verdade do nosso coração, para ver onde colocamos a segurança da nossa vida. Normalmente, o rico sente-se seguro com as suas riquezas e, quando estas estão em risco, pensa que se desmorona todo o sentido da sua vida na terra. O próprio Jesus no-lo disse na parábola do rico insensato, falando daquele homem seguro de si, que – como um insensato – não pensava que poderia morrer naquele mesmo dia (cf. Lc 12, 16-21).

As riquezas não te dão segurança alguma. Mais ainda: quando o coração sente-se rico, fica tão satisfeito de si mesmo que não tem espaço para a Palavra de Deus, para amar os irmãos, nem para gozar das coisas mais importantes da vida. Deste modo, priva-se dos bens maiores. Por isso, Jesus chama felizes os pobres em espírito, que têm o "coração pobre", onde pode entrar o Senhor com a sua incessante novidade. 

Esta pobreza de espírito está intimamente ligada à "santa indiferença" proposta por Santo Inácio de Loyola, na qual alcançamos uma estupenda "liberdade interior": «É necessário tornar-nos indiferentes face a todas as coisas criadas, de tal modo que, por nós mesmos, não queiramos mais a saúde do que a doença, mais a riqueza do que a pobreza, mais a honra do que a desonra, mais uma vida longa do que curta, e assim em tudo o resto».

São Lucas não fala duma pobreza "em espírito", mas simplesmente de ser "pobre" (cf. Lc 6, 20), convidando-nos assim a uma vida também austera e essencial. Desta forma, chama-nos a compartilhar a vida dos mais necessitados, a vida que levaram os Apóstolos e, em última análise, a configurar-nos a Jesus, que, "sendo rico, se fez pobre" (cf. 2Cor 8, 9). Ser pobre no coração: isto é santidade. 

2.) «Felizes os mansos, porque possuirão a terra» É uma frase forte, neste mundo que, desde o início, é um lugar de inimizade, onde se litiga por todo o lado, onde há ódio em toda a parte, onde constantemente classificamos os outros pelas suas ideias, os seus costumes e até a sua forma de falar ou vestir. Em suma, é o reino do orgulho e da vaidade, onde cada um se julga no direito de elevar-se acima dos outros. Embora pareça impossível, Jesus propõe outro estilo: a mansidão. É o que praticava com os seus discípulos, e contemplamos na sua entrada em Jerusalém: "aí vem o teu Rei, ao teu encontro, manso e montado num jumentinho" (Mt 21, 5; cf. Zc 9, 9).

Disse Jesus: "Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito" (Mt 11, 29). Se vivemos tensos, arrogantes diante dos outros, acabamos cansados e exaustos. Mas, quando olhamos os seus limites e defeitos com ternura e mansidão, sem nos sentirmos superiores, podemos dar-lhes uma mão e evitamos de gastar energias em lamentações inúteis. Para Santa Teresa de Lisieux, "a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não se escandalizar com as suas fraquezas". 

Paulo designa a mansidão como fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 23). E, se alguma vez nos preocuparem as más ações do irmão, propõe que o abordemos para corrigi-lo, mas «com espírito de mansidão, [lembrando-nos:] e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1)». Mesmo quando alguém defende a sua fé e as suas convicções, deve fazê-lo com mansidão (cf. 1Pd 3, 16), e os próprios adversários devem ser tratados com mansidão (cf. 2Tm 2, 25). Na Igreja, erramos muitas vezes por não ter acolhido este apelo da Palavra divina.

A mansidão é outra expressão da pobreza interior, de quem deposita a sua confiança apenas em Deus. De fato, na Bíblia, usa-se muitas vezes a mesma palavra "anawin" para se referir aos pobres e aos mansos. Alguém poderia objetar: «Mas, se eu for assim manso, pensarão que sou insensato, estúpido ou frágil». Talvez seja assim, mas deixemos que os outros pensem isso. É melhor sermos sempre mansos, porque assim se realizarão as nossas maiores aspirações: os mansos «possuirão a terra», isto é, verão as promessas de Deus cumpridas na sua vida. Porque os mansos, independentemente do que possam sugerir as circunstâncias, esperam no Senhor, e aqueles que esperam no Senhor possuirão a terra e gozarão de imensa paz (cf. Sl 37/36, 9.11). Ao mesmo tempo, o Senhor confia neles: «é nos humildes de coração contrito que os meus olhos se fixam, pois escutam a minha palavra com respeito» (Is 66, 2). Reagir com humilde e mansidão: isto é santidade!

3.) «Felizes os que choram, porque serão consolados»

O mundo propõe-nos o contrário: o entretenimento, o prazer, a distração, o divertimento. E diz-nos que isto é que torna boa a vida. O mundano ignora, olha para o lado, quando há problemas de doença ou aflição na família ou ao seu redor. O mundo não quer chorar: prefere ignorar as situações dolorosas, cobri-las, escondê-las. Gastam- se muitas energias para escapar das situações onde está presente o sofrimento, julgando que é possível dissimular a realidade, onde nunca pode faltar a cruz (a cruz é o sofrimento com sentido).

A pessoa que, vendo as coisas como realmente estão, se deixa trespassar pela aflição e chora no seu coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser autenticamente feliz. Esta pessoa é consolada, mas com a consolação de Jesus e não com a do mundo. Assim pode ter a coragem de compartilhar o sofrimento alheio, e deixa de fugir das situações dolorosas. Desta forma, descobre que a vida tem sentido socorrendo o outro na sua aflição, compreendendo a angústia alheia, aliviando os outros. Esta pessoa sente que o outro é carne da sua carne, não teme aproximar-se até tocar a sua ferida, compadece-se até sentir que as distâncias são superadas. Assim, é possível acolher aquela exortação de São Paulo: «Chorai com os que choram» (Rm 12, 15). Saber chorar com os outros: isto é santidade.

4.) «Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão
saciados»

"Fome e sede" são experiências muito intensas, porque correspondem a necessidades primárias e têm a ver com o instinto de sobrevivência. Há pessoas que, com esta mesma intensidade, aspiram pela justiça e buscam-na com um desejo assim forte. Jesus diz que elas serão saciadas, porque a justiça, mais cedo ou mais tarde, chega e nós podemos colaborar para torná-la possível, embora nem sempre vejamos os resultados deste compromisso.

Mas a justiça, que Jesus propõe, não é como a que o mundo procura, uma justiça muitas vezes manchada por interesses mesquinhos, manipulada para um lado ou para outro. A realidade mostra- nos como é fácil entrar nas astúcias da corrupção, fazer parte dessa política diária do "dou para que me deem", onde tudo é negócio. E quantas pessoas sofrem por causa das injustiças, quantos ficam assistindo, impotentes, como outros se revezam para repartir o bolo da vida. 

Esta justiça começa por tornar-se realidade na vida de cada um, sendo justo nas próprias decisões, e depois manifesta-se na busca da justiça para os pobres e vulneráveis. É verdade que a palavra «justiça» pode ser sinônimo de fidelidade à vontade de Deus com toda a nossa vida, mas, se lhe dermos um sentido muito geral, esquecemo-nos que se manifesta especialmente na justiça com os inermes: «procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as viúvas» (Is 1, 17). Buscar a justiça com fome e sede: isto é santidade.

O compromisso com a justiça

Embora não identifique sua fé com nenhuma ideologia ou força político- partidária, o cristão, estimulado pela esperança, deve estar sempre disponível a colaborar ativamente em todas as forças vivas da sociedade, que trabalham pela promoção integral do ser humano. Pois a esperança da ressurreição, enquanto faz do cristão estrangeiro e peregrino neste mundo, não é sonho que aliena da realidade, mas força estimulante do compromisso com a justiça.

A esperança cristã supõe a salvação integral do ser humano; e, como tal, inclui também as salvações parciais que ao longo da história vão acontecendo na economia, na política e na organização social. Não fosse assim, aos que são vítimas das injustiças, aos excluídos do bem-estar social e econômico, negar-se-ia, de certo modo, sua participação numa salvação parcial, que deveria beneficiar a todos. Seria como privá-los de uma felicidade, certamente parcial, mas à qual eles têm direito.

5.) "Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia"

A misericórdia tem dois aspectos: é dar, ajudar, servir os outros; mas também perdoar, compreender. Mateus resume-o numa regra de ouro: "o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles" (Mt 7, 12).

Dar e perdoar é tentar reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus, que dá e perdoa superabundantemente. Por esta razão, no Evangelho de Lucas, já não encontramos «sede perfeitos» (Mt 5, 48), mas «sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado» (Lc 6, 36-38). E depois Lucas acrescenta algo que não deveríamos transcurar: «a medida que usardes com os outros será usada convosco» (6, 38). A medida que usarmos para compreender e perdoar será aplicada a nós para nos perdoar. A medida que aplicarmos para dar, será aplicada a nós no céu para nos recompensar. Não nos convém esquecê-lo.

Jesus não diz «felizes os que planejam vingança», mas chama felizes aqueles que perdoam e o fazem «setenta vezes sete» (cf. Mt18, 22). É necessário pensar que todos nós somos uma multidão de perdoados. Todos nós fomos olhados com compaixão divina. Se nos aproximarmos sinceramente do Senhor e ouvirmos com atenção, possivelmente uma vez ou outra escutaremos esta repreensão: «não devias também ter piedade do teu companheiro como Eu tive de ti?» (Mt 18, 33). Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade.

6.) «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus»

Esta bem-aventurança diz respeito a quem tem um coração simples, puro, sem imundície, pois um coração que sabe amar não deixa entrar na sua vida algo que atente contra esse amor, algo que o enfraqueça ou coloque em risco. Na Bíblia, o coração significa as nossas verdadeiras intenções, o que realmente buscamos e desejamos, para além do que aparentamos: «O homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração» (1 Sam 16, 7). Ele procura falar-nos ao coração (cf. Os 2, 16) e nele deseja gravar a sua Lei (cf. Jr 31, 33). Em última análise, quer darnos um coração novo (cf. Ez 36, 26).

"Vela com todo o cuidado sobre o teu coração" (Pr 4, 23). Nada de manchado pela falsidade tem valor real para o Senhor. Ele «foge da duplicidade, afasta-Se dos pensamentos insensatos» (Sb 1, 5). O Pai, que «vê no oculto» (cf. Mt 6, 6), reconhece o que não é limpo, ou seja, o que não é sincero, mas só casca e aparência; e de igual modo também o Filho sabe o que há em cada ser humano (cf. Jo 2, 25).

Esta bem-aventurança lembra-nos que o Senhor espera uma dedicação ao irmão que brote do coração, pois "ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me vale" (1 Cor 13, 3). Também vemos, no Evangelho de Mateus, que é «o que provém do coração (...) que torna o homem impuro» (15, 18), porque de lá procedem os homicídios, os roubos, os falsos testemunhos (cf. 15, 19). Nas intenções do coração, têm origem os desejos e as decisões mais profundas que efetivamente nos movem. Antes da beneficência, vem a benevolência!

Quando o coração ama a Deus e ao próximo (cf. Mt 22, 36-40), quando isto é a sua verdadeira intenção e não palavras vazias, então esse coração é puro e pode ver a Deus. São Paulo lembra, em pleno hino da caridade, que «vemos como num espelho, de maneira confusa» (1Cor 13, 12), mas, à medida que reinar verdadeiramente o amor, tornar-nos-emos capazes de ver «face a face» (cf. 1Cor 13, 12). Jesus promete que as pessoas de coração puro «verão a Deus». Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é santidade.

7.) «Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus»

Esta bem-aventurança faz-nos pensar nas numerosas situações de guerra que perduram. Da nossa parte, é muito comum sermos causa de conflitos ou, pelo menos, de incompreensões. Por exemplo, quando ouço qualquer coisa sobre alguém e vou ter com outro e lho digo; e até faço uma segunda versão um pouco mais ampla e espalho-a. E, se o dano que consigo fazer é maior, até parece que me causa maior satisfação. O mundo das murmurações, feito por pessoas que se dedicam a criticar e destruir, não constrói a paz. Pelo contrário, tais pessoas são inimigas da paz e, de modo nenhum, bem-aventuradas.

Os pacíficos são fonte de paz, constroem paz e amizade social. Àqueles que cuidam de semear a paz por todo o lado, Jesus faz- lhes uma promessa maravilhosa: «serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). Aos discípulos, pedia-lhes que, ao chegar a uma casa, dissessem: «a paz esteja nesta casa!» (Lc 10, 5). A Palavra de Deus exorta cada crente a procurar, juntamente «com todos», a paz (cf. 2 Tim 2, 22). E na nossa comunidade, se alguma vez tivermos dúvidas acerca do que se deve fazer, «procuremos aquilo que leva à paz» (Rm 14, 19), porque a unidade é superior ao conflito.

Não é fácil construir esta paz evangélica que não exclui ninguém; antes, integra mesmo aqueles que são um pouco estranhos, as pessoas difíceis e complicadas, os que reclamam atenção, aqueles que são diferentes, aqueles que são muito fustigados pela vida, aqueles que cultivam outros interesses.

Trata-se de ser artesãos da paz, porque construir a paz é uma arte que requer serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza. Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade.

8.) «Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu»

O próprio Jesus sublinha que este caminho vai contracorrente, a ponto de nos transformar em pessoas que questionam a sociedade com a sua vida, pessoas que incomodam. Jesus lembra as inúmeras pessoas que foram, e são, perseguidas simplesmente por ter lutado pela justiça, ter vivido os seus compromissos com Deus e com os outros. Se não queremos afundar numa obscura mediocridade, não pretendamos uma vida cômoda, porque, "quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la" (Mt 16, 25).

Para viver o Evangelho, não podemos esperar que tudo à nossa volta seja favorável, porque muitas vezes as ambições de poder e os interesses mundanos jogam contra nós. A cruz, especialmente as fadigas e os sofrimentos que suportamos para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça, é fonte de amadurecimento e santificação. Lembremo-nos disto: quando o Novo Testamento fala dos sofrimentos que é preciso suportar pelo Evangelho, refere-se precisamente às perseguições (cf. At 5, 41; Fl 1, 29; Cl 1, 24; 2 Tm 1, 12; 1 Pd 2, 20; 4, 14-16; Ap 2, 10).

Fala-se, porém, das perseguições inevitáveis, não daquelas que nós próprios podemos provocar com um modo errado de tratar os outros. Um santo não é uma pessoa excêntrica, distante, que se torna insuportável pela sua vaidade, negativismo e ressentimento. Não eram assim os Apóstolos de Cristo. O livro dos Atos refere, com insistência, que eles gozavam da simpatia «de todo o povo» (2, 47; cf. 4, 21.33; 5, 13), enquanto algumas autoridades os assediavam e perseguiam (cf. 4, 1- 3; 5, 17-18).

As perseguições não são uma realidade do passado, porque hoje também as sofremos quer de forma cruenta, como tantos mártires contemporâneos, quer duma maneira mais sutil, através de calúnias e falsidades. Jesus diz que haverá felicidade, quando, «mentindo, disserem todo o gênero de calúnias contra vós, por minha causa» (Mt 5, 11). Outras vezes, trata-se de zombarias que tentam desfigurar a nossa fé e fazer-nos passar por pessoas ridículas. Abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade.



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