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A Ascensão do Senhor

Publicada em 23/05/20 às 12:41h - 570 visualizações

por Dom José Roberto Fortes Palau


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 (Foto: Marco Antonio Erbeta)
Os quarenta dias, as aparições e a ascensão

1. INTRODUÇÃO

Celebraremos, amanhã, o mistério conclusivo da vida de Jesus: sua ascensão ao céu. Quando afirmamos que Jesus foi para o céu, não estamos dizendo que ele subiu para o
espaço sideral, mas que foi para junto de Deus. “Ir para o céu significa ir para Deus”.
Estar no céu significa estar junto de Deus. O céu, portanto, começa para nós, seres humanos, quando Cristo Ressuscitado leva para junto de Deus a nossa humanidade, estabelecendo "comunhão total entre a realidade criada e a realidade divina". O corpo ressuscitado de Cristo é a ‘porta’ que nos dá acesso até o coração de Deus. Ao retornar para junto do Pai, Cristo leva consigo a natureza humana. A realidade criada, a natureza humana, comunga da natureza divina em plenitude.

2. O SENTIDO DA PALAVRA ASCENSÃO

É a solenidade da "exaltação do Senhor". A palavra "exaltar é de origem vetero-testamentária e indica a entronização do rei. Como festa da exaltação de Cristo, a
ascensão significa a entronização do homem crucificado Jesus como rei divino sobre o
mundo.
O acontecimento da "Ascensão" é descrito na voz passiva: Jesus foi "elevado", "assumido" por Deus Pai. Portanto, a "Ascensão" é um ato do poder de Deus, que traz o homem Jesus para junto de si: "à direita de Deus Pai". À direita do Pai não é um lugar, mas uma imagem para dizer que "Jesus Ressuscitado comunga do mesmo poder e glória de Deus Pai".
A "Ascensão não é uma viagem aérea para a nuvem". A imagem da nuvem é um símbolo antiquíssimo do Antigo Testamento: sinal de que Deus está escondido, sendo precisamente como escondido próximo e poderoso, sempre acima de nós e, contudo, perenemente no nosso meio, que foge de todas as tentativas de o apreendermos e dispormos sobre Ele.
Por meio da imagem da nuvem, a narração da "Ascensão" relembra toda a história de Deus com o povo de Israel, a começar com a nuvem do monte Sinai e sobre a tenda da aliança no deserto, até a nuvem que no monte Tabor, o monte da Transfiguração, anunciava a proximidade de Deus.
Pelo mistério da "Ascensão" cremos que em Jesus ressuscitado, a natureza humana, da qual todos nós participamos, entrou no mais íntimo de Deus de um modo inaudito e novo. Significa que o ser humano tem lugar em Deus para sempre, conforme promessa do próprio
Cristo: “Vou preparar um lugar para vós. E depois que eu tiver ido e preparado um lugar para vós, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14, 2c-3). 
Baseado em tudo isso, podemos compreender que São Lucas, no encerramento de seu
evangelho, relate-nos que os discípulos depois da "Ascensão" voltaram com grande alegria
para Jerusalém (cf. Lc 24, 52). Por que estavam alegres? Porque não entendiam o acontecido como uma despedida, pois se fosse despedida, não estariam alegres (…).
Estavam alegres, pois para eles a ascensão era a certeza de que Jesus ressuscitado vive, que definitivamente estava vencida a morte que separava o ser humano de Deus; e que as portas da vida eterna estavam abertas para sempre!

3. A RESSURREIÇÃO DO CORPO

Ao abordamos o tema da "ressurreição" é sempre conveniente nos lembramos da dignidade do corpo humano. A esperança cristã não se reduz à vida da alma imortal. O corpo é vital para nossa existência, tanto aqui na terra, como será na realidade escatológica, o céu.
Assim como Cristo retornou para o Céu com um corpo glorificado, também teremos nossos corpos transformados à imagem do corpo glorioso de Jesus (Fl 3, 20-21; 1Cor 15,51-53). Isso leva-nos a tomar consciência da dignidade e inviolabilidade do corpo humano. Os antigos padres da Igreja se referiam ao corpo humano como "res sacra" (realidade sagrada).
O ser humano é uma realidade única: corpo e alma. Portanto, não apenas a alma, mas nosso corpo participará da condição gloriosa da ressurreição. Ensina o Catecismo da Igreja: "Com a morte, separação da alma e do corpo, o corpo humano cai na corrupção, enquanto a alma vai ao encontro de Deus, permanecendo na expectativa de novamente ser unida ao seu corpo glorificado. Deus na sua onipotência restituirá definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos, reunindo-os às nossas almas, na força da ressurreição de Jesus" (CIC n. 997).
Como será nosso corpo ressuscitado? Cristo ressuscitou com seu próprio corpo: "Olhe minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo" (Lc 24, 39). Mas Jesus Ressuscitado não retornou a sua vida terrena. Do mesmo modo, em Cristo, todos nós ressuscitaremos com nosso corpo histórico, "mas este corpo será transfigurado em corpo glorioso, em corpo espiritual" (cf. 1Cor 15, 44). Como? É algo que supera as possibilidades de nosso intelecto; é acessível somente na fé. Quando? Definitivamente no "último dia" (cf. Jo 6, 39-40.44.54; 11, 24). De fato, a ressurreição dos mortos é intimamente associada à Parusia de Cristo (cf. 1Ts 4, 16).
Daí o cuidado, zelo e respeito que devemos ter, não apenas com nosso corpo, mas também com o corpo das outras pessoas. Na celebração da missa de exéquias, o corpo do defunto é incensado; é o mesmo incenso utilizado para incensar a Santíssima Eucaristia, que é o Corpo de Jesus. Desse modo, a liturgia ensina-nos que o corpo humano é sagrado, pois é destinado à glória da ressurreição.

4. A VIDA ETERNA

A vida eterna é estar na comunhão plena com Jesus. Santo Tomás tem um texto belíssimo sobre a vida eterna: "Na vida eterna o bem maior é que o ser humano se une plenamente a Deus. Portanto, Deus mesmo é o prêmio e o fim último de todos os nossos esforços (…). Esta comunhão consiste na perfeita visão beatífica: 'Agora vemos como num espelho, em enigma; então, na glória, veremos face-a-face' (1Cor 13, 12). Consiste também no sumo louvor (…). E igualmente na perfeita saciedade do desejo (…). Na feliz comunhão de todos os bem-aventurados; e esta comunhão será muito agradável porque cada um condividirá todos os bens com os demais bem-aventurados. Portanto, cada um amará o outro como a si mesmo, e, por isso, se alegrará pelo bem do outro como se fosse seu próprio bem" (Opusc. Theol. 2).
No céu não perderemos nossa identidade pessoal. Na comunhão plena com Cristo esta identidade atingirá a sua máxima realização. Relação com Deus e consistência própria do ser criaturas crescem ao mesmo tempo, não se opõe uma à outra. Como o destino do ser humano é esta comunhão com Deus em Cristo, quem a atinge é plenamente si mesmo, atinge a plenitude de seu ser.
Qualquer descrição que façamos da vida eterna será sempre inadequada. Por isso mesmo, a necessidade do uso da linguagem simbólica, utilizada pelo próprio Jesus, pela Sagrada Escritura e pela Tradição: vida, luz, paz, banquete das núpcias, vinho do Reino, casa do Pai, Jerusalém Celeste, Paraíso (…). O que Deus preparou para aqueles que o amam, supera toda nossa capacidade de imaginação, porque é Ele mesmo. A infinita majestade de Deus é tal que somente pode ser vista por aquele ao qual Deus mesmo se dá a conhecer. Somente com nossas forças não podemos chegar a Deus. A "visão beatífica", assim chamada porque torna-nos plenamente felizes, afortunados, bem-aventurados, é dom e é graça. Somente Deus pode admitir-nos à alegria de seu reino.
Os bem-aventurados continuam a realizar o desígnio de Deus com respeito às outras pessoas e à criação. Intercedem por aqueles que se encontram ainda em caminho. O Concílio Vaticano II, no capítulo 07 da Constituição "Lumen Gentium" (nn. 48-51), falou
da índole escatológica da Igreja peregrina e da sua comunhão com a Igreja celeste. Os bem-aventurados reinam para sempre com Cristo. Eles mesmos são o Reino, enquanto com eles se realiza totalmente o domínio salvífico de Cristo, o domínio que elimina toda escravidão e
miséria.
Nos bem-aventurados o Senhor manifesta o seu poder salvífico. Podemos concluir essa
reflexão sobre o tema vida eterna com as mesmas palavras com que Santo Agostinho
concluiu sua obra "A Cidade de Deus" (22, 30): "Lá repousaremos e veremos, veremos e
amaremos, amaremos e louvaremos. É o que acontecerá até o fim sem fim".

5. OS QUARENTA DIAS E AS APARIÇÕES

Jesus ressuscita da mansão dos mortos direto para o céu. Como ficam então os quarenta
dias e as aparições sobre a terra?
Como podemos definir as aparições de Jesus durante um período de tempo? As aparições são ‘teofanias’, ou seja, são acontecimentos que vêm do céu visitar a terra”. O que nos permite compreender que Estevão e Paulo podem falar de aparições do Ressuscitado, quando sua experiência se situa depois desse período privilegiado (cf. At 7, 55-56 e 9, 3-6).
Como as aparições são manifestações teofânicas daquele que está no céu, compreendesse
melhor também que Jesus esteja invisível; que se tenha revelado apenas a alguns, capazes
de revelação; que mesmo para estes, ele não é visto com facilidade. Houve, durante determinado tempo, essas manifestações excepcionais do Senhor, que vem do céu e partilha
sobre a terra a intimidade de alguns discípulos, para iniciá-los em sua ressurreição e naquilo
que ela significa. Não é um Jesus que ficou na terra, mas o Senhor ressuscitado que vem
do céu, de junto do Pai.
E a ascensão? Se Jesus já está no céu? Na realidade, a ascensão é exatamente a última aparição e o fim das aparições. Ao término de quarenta dias, as testemunhas não se beneficiaram mais dessas revelações do ressuscitado; ele desapareceu aos seus olhos (cf. At
1, 9); daí em diante não o viram mais (cf. Lc 24, 31). Jesus, que desde a ressurreição da mansão dos mortos está no céu, põe fim às suas manifestações na terra.
Em que reside então a importância da ascensão? Reside nisto: é na ocasião da última aparição, em que Jesus se revela pela última vez aos apóstolos, que é confiada definitivamente e solenemente aos apóstolos sua missão de Igreja, e cuja confirmação e
plenitude receberão no Pentecostes.
Teofania não é reportagem jornalística. Cada vez que falamos de descida ou subida ao céu, estamos usando ‘metáforas’, representações, não falamos de fatos cosmológicos, mas de realidades transcendentes. Assim também os números, simbolizam uma “cronologia teológica”: assim como a criação, a salvação não se faz em um dia (os três dias da ressurreição; os quarenta dias das manifestações; ainda os dez dias antes de Pentecostes). Na realidade todas essas narrativas querem dizer apenas isto: Jesus conheceu a morte, venceu-a, passou ao Pai, fez-se reconhecer por seus apóstolos e acabou, então, a obra começada na encarnação. Tudo isso leva tempo! Daí que se trata de um Deus que respeita o ser humano na verdade de sua “temporalidade”. Até uma revelação demanda tempo, respeita o ritmo humano. As aparições são as de quem não está mais na mansão dos mortos, mas “à direita de Deus”.

6. MISSÃO

Celebrar a ascensão de Jesus significa, antes de mais, tomar consciência da missão que foi confiada aos discípulos e sentir-se responsável pela presença do “Reino” na vida dos homens. A missão que Jesus confiou aos discípulos é uma missão universal: as fronteiras, as
raças, a diversidade de culturas, não podem ser obstáculos para a presença da proposta
libertadora de Jesus no mundo. Tornar-se discípulo é, em primeiro lugar, aprender os
ensinamentos de Jesus – a partir das suas palavras, dos seus gestos, da sua vida oferecida por amor. É evidente que o mundo do século XXI apresenta, todos os dias, desafios novos; mas os discípulos, formados na escola de Jesus, são convidados a ler os desafios que hoje o mundo coloca, à luz dos ensinamentos de Jesus.
É um tremendo desafio testemunhar, hoje, no mundo os valores do “Reino” (esses valores que, muitas vezes, estão em contradição com aquilo que o mundo defende e que o mundo considera serem as prioridades da vida). O confronto com o mundo gera muitas vezes, nos discípulos, desilusão, sofrimento, frustração (…). Nos momentos de decepção e de desilusão convém, no entanto, recordar as palavras de Jesus: “Eu estarei convosco até ao fim dos tempos”. Esta certeza deve alimentar a coragem com que testemunhamos aquilo em
que acreditamos.

7. PARÓQUIA: CENTRO MISSIONÁRIO

Etimologicamente a palavra ‘paróquia’ vem da língua grega, e quer significar a consciência que um povo tem de habitar em terra estrangeira e de estar a caminho da terra prometida, já que o verbo ‘paroquiar’ tem o sentido de habitar junto a outrem. Paróquia, portanto, é a comunidade de peregrinos que caminham rumo à terra prometida.
A missão específica da paróquia é gerar e educar para a fé. Não nascemos cristãos nem nos fazemos cristãos de um momento para o outro. Tornamo-nos cristãos de forma gradual e progressiva. A vida cristã é semelhante a uma semente lançada à terra que germina, cresce, amadurece e dá frutos. Tornar-se cristão é um processo que necessita de tempo e para o qual se conjuga basicamente três fatores: a graça de Deus, o testemunho da comunidade e o esforço pessoal de conversão. Todos esses elementos devem estar presentes numa comunidade paroquial.
Em virtude de sua dinâmica própria, a fé requer ser conhecida, celebrada, vivida e feita oração. Cada uma dessas dimensões deve ser cultivada e promovida pela comunidade
paroquial. É na comunidade, nos seus membros mais empenhados, nas suas celebrações, que cristãos, e também não cristãos, vêem, experimentam e aprendem a ser verdadeiros
discípulos de Cristo. É na paróquia e nas pessoas que lhe dão rosto – pais e mães, agentes
de pastoral, catequistas, ministros extraordinários da comunhão, diáconos, padres, entre outros – que se pode fazer a descoberta do mistério de Jesus Cristo e da alegria da vocação cristã. É no âmbito da paróquia que as pessoas são introduzidas na celebração, na oração, no comportamento moral e no sentido de Igreja.
A paróquia é o espaço humano e cristão onde se torna presente a comunidade cristã que acolhe, congrega na comunhão eclesial e educa na fé. À paróquia cabe a tarefa de acolher
e apoiar as famílias na sua missão educativa de berço da vida, Igreja doméstica e escola das virtudes. A riqueza da vida cristã das paróquias está diretamente associada à missão educadora das famílias.
Só uma paróquia que é permanentemente evangelizada pode tornar-se educadora da vida cristã. Só uma paróquia que acompanha com planejamento e carinho o desenvolvimento harmonioso de seus membros, que presta atenção e auxílio ao seu amadurecimento rumo a uma fé amadurecida e adulta, pode autodenominar-se ‘paróquia evangelizadora’.
Como educadora da fé, a paróquia tem também a missão profética de apontar o subjetivismo exacerbado da pós-modernidade. Subjetivismo já presente em nossa realidade
eclesial, com a idéia de que a fé é algo individual. Não. A fé não é uma decisão absolutamente individual. A fé se comunica através de uma comunidade. Sem a comunidade dos discípulos de Jesus (a Igreja), nós não acreditaríamos em um tal de Jesus, que já morreu, mas Paulo afirma estar vivo (cf. At 25, 19). A Igreja não é o termo, mas o lugar de nossa fé. A fé é teologal, cristológica, mas se vive no interior da Igreja.
Termino, com uma reflexão do prior do mosteiro ecumênico de Taizé, Roger Schutz: “Sozinho, ninguém chega a compreender a fé na sua totalidade. Então, cada um poderia dizer: nesta comunhão que é a Igreja, o que eu não compreendo, outros o compreendem
e o vivem. Eu não me apoio apenas na minha fé, mas também na fé dos cristãos de todos
os tempos”. Amém.



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