Vivemos num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Somos um povo bonito resultado da diversidade dos povos que aqui estavam e para cá vieram e se misturaram; temos também, em muitos de nós uma crença que no amor transcendemos todas as diferenças estéticas.
Porém, em muitos de nós há uma cultura, às vezes velada outras vezes explícita, que as diferenças implicam na valorização sociológica das pessoas, em outras palavras, pessoas brancas valem mais que pessoas negras, pessoas bonitas valem mais que pessoas feias, pessoas ricas valem mais que pessoas pobres, pessoas estudadas valem mais que pessoas analfabetas.
Essa herança vem do pensamento grego, que acreditava que as pessoas já nasciam com a latência do que poderiam ser. Como a semente da laranja cuja única possibilidade é ser uma laranjeira, assim uns nascem para serem filósofos outros para serem soldados, uns nascem para serem livres outros para serem escravos, uns nascem para serem patroas outros para ser empregadas domésticas. Dessa forma justificamos que a vida de algumas pessoas vale mais que a vida de outras pessoas por que isto é dado pela natureza. E essa cultura escravocrata permeia a nossa sociedade.
A tragédia da morte do menino Miguel de cinco anos na cidade de Recife é um dos muitos exemplos da nossa sociedade escravocrata, possuindo todos os elementos comprobatórios:
- A patroa mantém o trabalho da empregada doméstica durante a pandemia, mesmo a empregada não tendo onde deixar o filho por que a escola está fechada. Assim a limpeza do seu apartamento vale mais que o bem estar de uma criança.
- A patroa confia o seu cachorro à empregada e a empregada confia o seu filho à patroa para assim cuidar do bem estar do cachorro da patroa.
- A patroa recebia também os serviços de uma manicure, durante a pandemia, e por isso talvez não pudesse cuidar do bem estar do filho da empregada que explorava o apartamento até ir para o elevador. Assim a patroa teve que intervir, mas entre cuidar da criança e voltar para a manicure, escolheu a manicure deixando a criança a própria sorte no elevador.
- Tenho convicção que a patroa não desejava nenhum mal à criança, porém tem uma escala de valores equivocada.
- E para completar há indícios que o salario da empregada era pago com o dinheiro da Prefeitura da cidade de Tamandaré, onde o marido da patroa é prefeito.
Infelizmente este não é o único caso no Brasil, há infinitos, basta lembrarmos que a primeira pessoa que morreu no Rio de Janeiro vitima da Covid-19 foi uma empregada doméstica que pegou o vírus da patroa que tinha voltado de uma viagem à Itália. Basta notarmos que nos prédios verticais há dois elevadores: um para as patroas e outro para as empregadas domésticas. E nos apartamentos há o quartinho da empregada doméstica.
Temos que lembrar continuamente que o pensamento cristão superou o pensamento grego e no Reino de Deus não há escravos e nem senhores, por que não importa os talentos que tenha, o valor está no que você fez com os talentos que recebeu. Assim qualquer vida vale a morte de Jesus na cruz.