(19) 9 9200-5515

NO AR

Verdade e Vida

Com Pe. Manoá Xavier

Religião

Assunção da Virgem Maria

Publicada em 15/08/20 às 19:39h - 778 visualizações

por Dom José Roberto Fortes Palau


Compartilhe
 

Link da Notícia:

Nossa Senhora da Assunção  (Foto: @pinterest)

1. Pentecostes 

“Então os apóstolos deixaram o monte das Oliveiras e voltaram para Jerusalém (...). Entraram na cidade e subiram para a sala de cima onde costumavam ficar. Eram Pedro e João, Tiago e André, Felipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão Zelota e Judas, filho de Tiago. Todos eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres – entre elas, Maria, mãe de Jesus – e com os irmãos dele”. (At 1,12-14). 

O Grupo das mulheres talvez seja aquele que assistira e seguia Jesus durante sua pregação na Palestina. E ali também está Maria, presença ativa e animada da oração na comunidade primitiva. 

Depois de ter convivido com Jesus, esperam agora a realização de sua promessa: “(...) recebereis o poder do Espírito Santo que viverá sobre vós para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra” (At 1,8) Isso se dá no dia de pentecostes: ficaram repletos do Espírito Santo (Cf At 2,1-4). 

O Espírito manifestou-se através de um vento impetuoso e de línguas de fogo. Fogo e vento são símbolos da manifestação (teofania) no AT, quando Deus revela sua santidade e purifica o homem (cf. Ex. 19, 18, 24, 17; 2Sm 22, 9-3; Is 6 ,6-7). 

O Primeiro efeito da erupção do Espírito é que “começaram a falar em outras línguas”, mas o efeito mais decisivo é a transformação interior que se realizou nelas. Eram os mesmos que tinham abandonado Jesus nos momentos cruciais do calvário. Estavam reclusos no cenáculo, cheios de medo dos judeus. A Vinda do Espírito Santo transforma esses homens. 

Pedro, apresentando-se junto com os onze levanta a voz e prega sem temor à multidão (Cf At 2, 14ss). Falam de Jesus como testemunhas pessoais, e aqueles que escutam recebem a fé por meio de seu testemunho! Maria está no meio da Igreja nascente. Está na condição de Mãe de Jesus. Conhece as fraquezas e os receios desta primeira comunidade eclesial (...). Foi precisamente  a esses homens medrosos que o anúncio do Reino foi confiado. A pequenez dos instrumentos não assusta Maria, porque em seu seio realizou-se para sempre o desponsório do poder de Deus com a limitação humana. O que aconteceu na “Anunciação” repete-se agora nos primórdios da Igreja, que sempre viverá esse mistério: a santidade e o amor de Deus que se transmitem através da fragilidade humana. 

A presença de Maria no Cenáculo é um ato de solidariedade com a Igreja primitiva. Ela certamente, é a que com maior desejo suplica a vinda do Espírito Santo. Na realidade, Maria já tinha uma longa história pessoal com Ele, pois sua vida está localizada pelas interações do Espírito Santo Foi Ele quem a “cobriu com sua sombra” e realizou nela a encarnação do filho de Deus. 

Toda a vida de Maria se desenvolve na força do Espírito. Segundo São Paulo, os frutos da ação do Espírito são: amor, alegria, paz bondade, fidelidade, lealdade, mansidão, domínio próprio (cf. Gl 5, 22). Não é uma exata descrição da vida de Maria em que o Espírito Santo agiu sem nenhum impedimento e sobre quem derramou generosamente seus dons? Para os apóstolos, trata-se de uma “novidade”, para Maria já é uma realidade plenamente operante em sua vida! 

Certamente, Pentecostes constituiu-se numa nova etapa da peregrinação de Maria rumo ao Reino definitivo. Pentecostes concede-lhe uma plenitude ainda maior na compreensão e vivência de sua inserção pessoal e de sua missão no ministério de Cristo. Ao receber novamente o Espírito, Maria experimenta, com crescente entusiasmo, o que sempre marcou sua vida: o amor e a entrega incondicional à vontade de Deus! 

No meio dos apóstolos, Maria não é somente aquela que implora com mais insistência e arder a vinda do Espírito, é também aquela que oferece a melhor recepção ao Espírito. 

A incumbência recebida no Calvário torna-se agora tarefa concreta, acompanhar com amor de mãe a Igreja nascente. Ela acompanha a difusão da Palavra, alegra-se com o progresso da evangelização, sofre com as dores da perseguição. Tudo isso acontece na força do Espírito Santo.  

Os apóstolos saem para pregar, fundam novas comunidades, enfrentam processos e perseguições, convocam até um concílio. Maria certamente permaneceu em oração pela Igreja, que nascia e se expandia. Na Igreja juntamente com a ação missionária, é indispensável a “caridade orante”. Maria é o “protótipo desta Igreja orante”. 

Depois de Pentecostes, certamente, a vida de Maria foi marcada pela oração. O biógrafo de São Francisco de Assis afirma que pelo fim da vida, Francisco já não era um homem que rezava, mas “um homem feito de oração”. Que dizer então, da mãe de Deus? Não sabemos como Maria rezava, mas podemos intuir algo, partindo da experiência de alguns santos. Os Santos, especialmente os místicos descreveram o que acontece na mais íntima do ser humano depois que passou pela “noite da fé”. São João da Cruz escreveu um poema intitulado “Cântico da alma que se consome pelo desejo de ver a Deus”. Cada estrofe deste cântico termina com o refrão: “ Morro porque não morro”. É tão grande nessa etapa a necessidade e o desejo do místico unir-se com Deus e possuí-lo totalmente, que continuar a viver aqui na terra torna-se um verdadeiro martírio. Tudo isso abre-nos uma nova perspectiva da vida de Maria, após Pentecostes. Que devia experimentar Maria quando em algumas circunstâncias rezava o Sl 24 que diz: “A minha alma tem sede do Senhor, do Deus vivo: quando poderei contemplar a face de Deus” ? (Sl 42,3). Se São Paulo, que era um grande amigo de Jesus, mas um amigo, não a mãe, podia dizer: “Desejo partir para estar com Cristo” (Fl 1,23), que dizer de Maria? Depois do êxtase de Óstia, quando com seu filho Agostinho tinha vislumbrado algo da vida eterna, Santa Mônica repetia: “Que faço ainda aqui?”, e depois de poucos dias morreu. “Que faço ainda aqui”. Estas palavras não teriam, às vezes, brotado também dos lábios da mãe de Jesus? 

Santo Agostinho afirma que a essência da oração é o desejo de Deus, que brota da fé, esperança e caridade: “O teu desejo é a tua oração; se o desejo for contínuo, a oração será contínua (...)”. Se não quiseres interromper a oração, nuca cesses de desejar. O teu desejo contínuo será a tua voz contínua. Maria conheceu a oração contínua, porque contínuo era o seu desejo de Deus.  

Pergunta: o que nos ensina Maria com a sua presença no Cenáculo no momento de Pentecostes e, depois de Pentecostes, com sua presença orante na Igreja nascente? 

Primeiro: que antes de empreender qualquer coisa e de atirar-se pelas estradas do mundo, a Igreja precisa do auxílio e da força do Espírito Santo. Ele é o “protagonista” da missão, que toca e converte os corações mais endurecidos. 

Segundo: para a vinda do Espírito Santo nós nos preparamos sobretudo com a oração caridade orante ... 

Terceiro: esta oração deve ser “perseverante” contínua ... Isto é uma espécie de “paradigma”, colocado no início da história da Igreja, para indicar à Igreja de todos os tempos como vem o Reino qual é a Lei e quais são as exigências ou a dinâmica do seu desenvolvimento. Isto vale também para nós, hoje! 


2. O Mistério da Assunção

A palavra "assunção" encontra suas raízes no verbo "assumir", que por sua vez, significa "tomar consigo". Portanto, na compreensão deste dogma mariano, entende-se que Deus assumiu, isto é, tomou para junto de si toda a pessoa da Mãe de seu Filho, e a glorificou para sempre. Ela é a primeira entre os redimidos que chegou ao Céu. 

A Virgem Maria assunta ao céu já é aquilo que toda a Igreja será quando ocorrer a consumação escatológica da história. Em Maria, a Igreja conhece com alegre antecipação o fim glorioso de sua própria história. Maria elevada à glória do céu representa a Igreja plenamente salva da corrupção do pecado; representa a Igreja que vence a luta contra o mal. Uma luta difícil, dura e longa. A passagem do livro do Apocalipse (cf. Ap 11, 19ss), que ouvimos na primeira leitura, apresenta a visão da luta entre a mulher e o dragão. Dragão que é a representação de todos os poderes da violência do mundo. A figura da mulher, que representa a Igreja, é por um lado gloriosa, triunfante, e por outro ainda se encontra em dificuldade. De fato, assim é a Igreja: se no Céu já está associada com a glória de seu Senhor, na história enfrenta constantemente as provações e desafios que supõe o conflito entre Deus e as forças do mal. E todos nós,  discípulos de Jesus, devemos enfrentar esta luta, como a Virgem Maria enfrentou e triunfou. Ela não nos abandona, mas acompanha-nos com solicitude materna. 

Ao mesmo tempo em que Ela é "toda de Deus", e pertence definitivamente à comunhão de vida trinitária, Maria continua perto da humanidade, dentro do mundo, com sua presença viva, íntima e envolvente de "Mãe da Igreja", "Mãe do Corpo Místico de Cristo" e assim como Ela cuidou com muito zelo e amor do corpo físico de Jesus, com o mesmo zelo e amor, cuida da Igreja. Precisamente porque está com Deus e em Deus, está pertíssimo de cada um de nós. Quando estava na terra podia somente estar perto de algumas pessoas. Estando em Deus, que está próximo de nós, que está no interior de todos nós, Maria participa nesta aproximação de Deus. Estando em Deus e com Deus, conhece o nosso coração, pode ouvir as nossas orações, nossos anseios, pode ajudar-nos com sua bondade materna. 

A segunda leitura fala justamente da ressurreição. Paulo, escrevendo aos Coríntios, insiste no fato de que ser cristão significa acreditar que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos. Toda a nossa fé se baseia nesta verdade fundamental, que não é uma ideia, mas um evento. E o mistério da Assunção de Maria em corpo e alma também está inteiramente inscrito na Ressurreição de Cristo: Cristo como primícias dos Ressuscitados, e Maria como primícias dos redimidos, a primeira daqueles “que pertencem a Cristo”. Ela é nossa Mãe, mas também podemos dizer que é nossa representante. Ela é a primeira entre os redimidos que chegou ao Céu. A pré-redimida é também a pré-ressuscitada: depois de Cristo e antes de nós. 

A solenidade da Assunção não é apenas um fato pessoal de Maria, mas um evento eclesial, pois diz respeito a todos nós. O fato de que Maria - uma de nós - tenha ascendido ao Céu em glória total nos dá a certeza de que as promessas de Cristo se realizarão. Em nossa caminhada em direção a um objetivo, temos necessidade de ver que alguém já o atingiu. No destino de Maria, vislumbramos o nosso destino; o destino da Virgem Maria envolve a todos nós.  

No evangelho, Maria diz: "A minha alma engrandece ao Senhor" - hoje a Igreja também canta a mesma coisa, e o canta em todas as partes do mundo. O Magnificat é o cântico da esperança. Aliás, o prefácio da solenidade de hoje, afirma que a "Virgem Maria elevada à glória do Céu é consolo e esperança para o povo ainda em caminho". Se não somos movidos pela esperança, não somos cristãos. O Papa Francisco gosta de dizer: não deixeis que vos roubem a esperança. Que não vos roubeis a esperança, porque esta força é uma graça, um dom de Deus que nos leva para frente, olhando para o Céu. E Maria está sempre lá, próxima das comunidades mais sofridas, mais perseguidas, caminhando com eles, sofrendo com eles, e cantando com eles o Magnificat da esperança. 

Enfim, o que devemos pedir na solenidade da Assunção é que aquilo que aconteceu com a Virgem Maria, também ocorra conosco, seus filhos e filhas: "que pela intercessão da Virgem Maria elevada, possamos também chegar à glória da ressurreição" (pós-comunhão). 




ATENÇÃO:Os comentários postados abaixo representam a opinião do leitor e não necessariamente do nosso site. Toda responsabilidade das mensagens é do autor da postagem.

Deixe seu comentário!

Nome
Email
Comentário


Insira os caracteres no campo abaixo:








TORNE-SE NOSSO SÓCIO CONTRIBUINTE LIGUE

(19) 3452-3731

Visitas: 263453
Usuários Online: 5
Copyright (c) 2024 - Radio Magnificat FM
Converse conosco pelo Whatsapp!